terça-feira, 6 de março de 2012

Voar no Brasil não é fácil, entenda porquê.

Para você entender o que é a aviação no Brasil  deve-se partir da seguinte ideia; imagine-se dirigindo um carro BMW luxuoso  no meio de um safari na África; é mais ou menos assim que um aviador se  sente voando no Brasil; você tem uma tecnologia de ponta dentro do seu avião  e um sistema precário e ultrapassado a sua volta. Vou explicar porquê.  



Atrasos: Os atrasos no Brasil têm características incomuns comparado  ao mundo afora; quando se tem nevoeiro... somente Guarulhos tem sistema mais preciso para pouso por instrumento, conhecido como " ILS categoria 2". Curitiba também tem, mas lá é tão engraçado que colocam o sistema para manutenção exatamente em época de nevoeiro. Vergonhosamente Porto Alegre,  Florianópolis e Confins não têm esse sistema. Estes sempre fecham por causa  de nevoeiro. Manaus, que tem uma localização extremamente estratégica e que  sempre tem nevoeiro, porém também não tem sistema ILS. Detalhe..."Nos  EUA, são mais de 100 aeroportos só com ILS categoria 2", fora os de  categoria 1 e 3.

Se você, passageiro, está indo para Porto Alegre,  fique sabendo que seu avião não pode alternar Florianópolis caso Porto  Alegre esteja fechado. Florianópolis tem um vergonhoso pátio para apenas  cinco aviões; lembrando que no verão Florianópolis recebe mais 150 vôos de  fretamento além dos regulares. Este aeroporto supracitado, vergonhosamente,  não tem taxiway (pista para a aeronave taxiar até a pista principal), sendo  necessário a aeronave taxiar pela pista principal gerando espaçamento maior  entre as aeronaves que se aproximam, ou seja, ocasionam atrasos.

Se  você está chegando a São Paulo, o problema é parecido. Guarulhos está sempre  com o pátio lotado, Vitória e Confins também. Galeão e Congonhas dias atrás  ficaram nesta situação, com o pátio lotado. Quem tinha Galeão como  alternativa de pouso teve que escutar um "negativo" do controlador para  alternar aquele aeroporto. Estava no plano de vôo que Galeão seria o  "alternado", Se o controlador aprovou o plano antes de decolar isso  significa que é questão de lei e não de conveniência de pátio.

Nordeste. Voar no Nordeste é mais tranquilo por haver menor tráfego  de aeronaves, porém lá tem outro problema: O controle de tráfego aéreo tem o  desserviço de contar com as aeronaves militares fazendo treinamento que  consequentemente geram atrasos, geralmente de mais de 20 minutos nas  decolagens; o que desencadeia um atraso bem maior quando essas aeronaves  chegam atrasadas ao sul do Brasil. Na regra internacional uma aeronave em  instrução militar tem preferência sobre aeronaves civis de passageiro em  pousos e decolagens, porém, se o País quer adotar regras internacionais ao  pé da letra...que construam bases militares específicas para a função  militar. Lembrem-se que aqui é o Brasil e não Europa ou EUA, onde os aviões  são sequenciados para pouso com separações de 4 km entre aeronaves, enquanto  que no Brasil é 8 km entre aeronaves e no caso de Florianópolis chega a 20  km por aeronaves por falta de taxiway.

Saibam que todo piloto  Brasileiro se sente mais seguro voando nos EUA, Europa e Asia do que voando  aqui no Brasil, fato decepcionante, mas vou explicar o por quê...

Aqui no Brasil existe uma regra: "a menor distância entre dois  pontos é uma curva". Você sabia que quando você sai do litoral brasileiro e  vai pra São Paulo você voa em curva? É necessário passar por cima do Rio de  Janeiro. Poderia ser direto via Minas Gerais. Esse contorno do litoral gera  em cada vôo pelo menos 1000 litros a mais de combustível consumido.

Nos EUA já não existe mais aerovia, somente proa direta para o  destino. Lá eles têm acordos com as ONG´s e entendem que quanto menos tempo  um avião ficar no ar menor é o efeito estufa. Se fosse aqui seria o  equivalente a você decolar de Salvador e o controlador autorizar proa direto  de São Paulo. São 1000 litros de querosene desperdiçados, sendo queimados na  cabeça dos cariocas a cada 2 minutos. "Deixe o Green Peace saber disso; o  Green Peace ficará superfeliz".

A desculpa não pode ser separação de  fluxo, já que os EUA são maiores que o Brasil, e onde o fluxo aéreo é  cinquenta vezes maior do que no Brasil. O que o Brasil voa em horas de voos  em 50 dias, os EUA voam o mesmo em apenas um dia. "Poderia ser pior, se  caísse neve no Brasil a desorganização aérea seria uma catástrofe  diária".

Mas não coloco a culpa nos controladores. A culpa não é  deles. O sistema brasileiro é que é arcaico e precário. O salário  deles é baixo e cheio de "concurseiros" sem compromisso com o seu  trabalho. Alguns são sérios e dedicados porém não têm condições de trabalho  dignas. Apenas um controlador cuida de várias regiões do País e todos sofrem  muita pressão para no final das contas serem menos eficientes que os  controladores americanos, europeus e asiáticos.

Outro dia ouvi um  controlador se despedindo no rádio porque tinha passado em um concurso  melhor – isto é vergonhoso para um país que quer ser "primeiro mundo" - ,  mas desejei a ele sucesso e espero que ele esteja feliz no emprego bem  remunerado que ele tem agora .Talvez ele não tenha sido valorizado  como deveria.

Eu como piloto de linha aérea digo sem exagero que  voar no Brasil hoje é como estarmos voando numa espécie de alerta amarelo.  Outro acidente está bem próximo de acontecer. Ao decolar não significa que  temos a certeza de pousar no destino  nem no aeroporto de alternativa.  Outro dia cinco aeroportos estavam literalmente fechados por falta de pátio;  Confins, Galeão, Vitoria, Guarulhos e Campinas. Você tem que decolar de  Brasilia para São Paulo com combustível suficiente para alternar Salvador.

Isso irá tornar a aviação brasileira inviável, sem mencionar a venda  de nossas companhias aéreas para países vizinhos, em decorrência das altas  taxas de impostos sobre as mesmas, que por isso, para sobreviverem no  mercado, submetem-se a parcerias miraculosas inclusive mudando a sede da  empresa para países vizinhos para se livrar dos impostos absurdos  daqui, ou seja, irão agora pagar impostos em outro país... Por que  será? Porque aqui não há incentivo. Falta de estrutura e falta de lucidez,  isso que eu chamo de " Entregar a Soberania Nacional".

Soberania não  é somente colocar soldados militares nas fronteiras. O País nunca foi tão  próspero, problema é que nossos governantes ganham eleições por saberem  aparecer e ainda têm mentalidade medíocre. São vendidos. Basta colocar  dólares na mão ou falar com um pouco de sotaque que eles entregam tudo.

Voei muito na Amazônia e garanto que depois que aquilo virar um  deserto ninguém mais vai querer assumir. O desmatamento está na razão é de  um campo de futebol por segundo.

Hoje só fazem hidrelétricas por  causa do apagão de 2002. Esses apagões na aviação irão se repetir pelos  próximos 20 anos. E lembre-se que a Copa do Mundo e as Olimpíadas serão em  época de nevoeiro.

A Infraero já arrumou duas soluções; tirar os  bancos de suas "Rodoviárias" para dar mais espaço para os passageiros  ficarem em pé, e liberar internet Wi-Fi de graça como se fosse um  "cala-boca" para seus usuários.

Hoje a aviação brasileira é  realmente uma surpresa diferente a cada dia, "a mess", (uma bagunça), como  definiu um piloto europeu esses dias atrás, e garanto a vocês que ser pego  de surpresa na aviação tem consequências trágicas.

Solução: primeiro  de tudo é: Os políticos começarem a pensar como governantes desenvolvidos  pensam ou, como disse o Raul Seixas: a solução é alugar o Brasil.

Nos EUA, Europa e Ásia  constroem um aeroporto para atender uma  demanda que só terá daqui 20 ou 30 anos e com pátio suficiente para  estacionar mais de 100 aviões de grande porte juntos. Isso é bem diferente  dos puxadinhos brasileiros que não dão conta nem da demanda atual.

Enquanto você lê esse e-mail, na Índia estão sendo construídos mais  de 10 aeroportos maiores do que o de Guarulhos. Na China são mais  de 70 sendo construídos e os 3 países: China, Brasil e India fazem parte do  mesmo grupo chamado "BRIC", que ainda incluem Rússia e África do Sul..  Parece que só o Brasil ainda não acordou entre esses cinco.

Já é um  absurdo os aeroportos brasileiros não terem metrôs. Os estrangeiros, quando  chegam aqui e não veem metrôs nos aeroportos, acham que é uma piada até  entenderem que não existe mesmo. Em qualquer aeroporto no estrangeiro tem  metrô.

Que país é esse? O brasileiro se compara muito aos EUA, porém  o povo americano sabe exigir de seus governantes, por isso o governo não  espera ser pressionado pra poder começar a fazer algo.

O povo  brasileiro só sabe reclamar. Só não sabe reclamar para a pessoa certa, ou  orgão "competente" certo. Reclama pro vizinho e pro amigo, mas quase ninguém  entra no site do Senado ou da Câmara dos deputados pra enviar e-mail para  reclamar do seu político ou pelo menos para saberem o que eles estão  fazendo.

É muito fácil ir aos Estados Unidos passear, fazer compras  e voltar falando que lá é o máximo e aqui é o fim do mundo. De fato são  décadas de atraso, porém lá o povo é mais consciente com relação ao que seus  políticos estão fazendo com o dinheiro público e a burocracia no país deles  praticamente inexiste se comparado ao nosso.

No Brasil a ANAC leva  30 dias para emitir uma carteira de aeronauta, gerando assim uma queda no  salário dos pilotos e comissários e prejuízo também para os empregadores.  Quem vai pagar essa conta? A Anac? O Governo Federal? Nos EUA a mesma  carteira é emitida em apenas uma hora pela FAA. Sem deixar de lembrar que no  Brasil a ANAC administra um universo de 20 mil pilotos comerciais  enquanto os EUA são mais de 600 mil.

Nos EUA poucos empregos no  setor público têm estabilidade, talvez seja por isso que o funcionário  público trabalha mais, tem mais eficiência, trabalha em função do próximo,  pede desculpa se atrasou e o trata bem o contribuinte, mesmo que seja um  latino-americano. No mais...

Boa sorte a todos e que Deus nos  proteja!


Fonte -  Texto recebido por e-mail de Gustavo Chacon.


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