quarta-feira, 28 de março de 2012
sábado, 10 de março de 2012
lendas paraenses - Do místico ao sobrenatural
No Pará, principalmente em cidades do interior, as lendas têm uma grande
influência sobre o povo, que acredita na veracidade de suas histórias.
Basta um instante conversando com algum morador mais antigo para ser
envolvido em uma aura mística.
Fantasia misturada a realidade, com aspectos místicos e um pé no sobrenatural, as lendas nascem, crescem e se reproduzem mas, de fato, nunca morrem. Sobrevivem na memória das pessoas e povoam nossa imaginação com fatos irreais, sem comprovações científicas ou verdades absolutas. Como “quem conta um conto, aumenta um ponto”, são repassadas de gerações a gerações e se mantêm vivas no imaginário de um povo.
O conteúdo das lendas é fortemente simbólico e geralmente tem detalhes que podem ter realmente acontecido ou não, e que ao serem contados e recontados começam a ter um outro nível de realidade e imaginação. Na antiguidade, não conseguindo explicar os fenômenos da natureza de forma científica, os povos criavam mitos para dar um sentido maior aos acontecimentos inexplicáveis. Tal qual os mitos de Édipo e Electra que, extraídos de lendas gregas, acabam sendo explicados à luz da psicologia moderna. No Brasil, a miscigenação contribuiu fortemente para a origem de um grande número de lendas que, vindas de outros povos, acabaram fazendo parte da nossa própria história.
As lendas, em especial as amazônicas, são muito famosas e vagam pelos quatro cantos do país. As mais difundidas, de origens índigenas, costumam buscar explicações para os elementos da natureza; as européias, principalmente as portuguesas, tratam mais de assombrações e fantasmas; por fim, as africanas são ligadas a entidades, exus e etc.. Em maior ou menor grau, estão presentes em nosso cotidiano e acabam influenciando a formação cultural de cada brasileiro.
Aqui vamos dar a conhecer algumas das lendas que assombram até os mais céticos dos habitantes do Pará:
A Boiúna, de boi (cobra) e una (negra), é uma cobra de tamanho imensurável. Tem olhos que “alumiam” feito tochas e ao passar pelos rios e igarapés derruba embarcações e devora crianças ou adultos que se banham nas margens. O povo paraense acredita que a Boiúna vive adormecida na cidade de Belém, entre a Cidade Velha e o bairro de Nazaré. E, quando ela acordar, irá afundar toda a cidade com seu movimento. Ao rastejar, a Boiúna vai deixando sulcos onde se formam novos igarapés. Vamos torcer para que ela nunca acorde - caso contrário, adeus bela Belém.
Segundo os ribeirinhos, um belo homem vestido de branco e com chapéu cobrindo a cabeça costuma aparecer nas festividades de São João para escolher a moça mais linda. Sedutor e charmoso, ele a convida para dançar e com seus encantos leva a escolhida para o fundo do rio. Sempre que avistam um homem de chapéu nas festas, os moradores costumam expulsá-lo, pois temem que ele possa ser o temido boto. Dizem que ele costuma usar o chapéu para esconder o rosto, já que sua tranformação em humano não é completa. E também para camuflar as narinas, que ficam no topo de sua cabeça. E aí, toparia uma dancinha com ele?
Presente em lendas da região Norte, principalmente no Pará, e também no Nordeste, lá pelas bandas do Maranhão, o capelobo é um bicho medonho. A lenda não explica bem como surgiu ou nasceu o Capelobo. Sabe-se apenas que é uma mistura de anta com tamanduá e homem e, ainda por cima, tem pés em formato de fundo de garrafa. O Capelobo é uma besta que, de acordo com os casos contados, suga a massa encefálica de suas vítimas. Digamos que ele é um parente não muito distante do Lobisomem, e suas vítimas preferenciais são animais recém-nascidos, entre eles gatos e cachorros. Ele também não descarta um delicioso cérebro humano. Eu que não gostaria de cruzar com um desses.
Também conhecida como Matinta Perê, reza a lenda que ela é uma pessoa que carrega a maldição de se transformar em uma velha com unhas incrivelmente compridas, vestida de preto, que solta um assobio estridente e assustador. Costuma andar pela noite assobiando e quem a escuta deve prometer tabaco a ela, que no dia seguinte irá a casa da pessoa buscar o prometido. Dizem que ela também se apresenta como um pássaro negro, conhecido como “rasga-mortalha”, e quando está para morrer diz “Quem quer? Quem quer?”. A pessoa que responder a ela, achando que irá ganhar algum presente ou algo precioso, acaba ganhando a herança de se transformar em Matinta Perêra. Se escutar essa frase por aí, não vá responder, hein!
Outras lendas que vale a pena conhecer: Iara ou Mãe D’Água, Curupira, Mula-sem-cabeça e Vitória-Régia.
Veja:
Ele, o Boto (1987 ) de Walter Lima Jr., com Carlos Alberto Ricelli, Cássia Kiss Magro e Dira Paes.
Lendas Amazônicas (1998) de Moisés Magalhães e Ronaldo Passarinho.
Matinta (2009) de diretor Fernando Segtowick, com atores paraenses, entre eles, Dira Paes.
Ouça:
“Curupira”, “Foi bôto, Sinhá” e “Matinta Perêra” – do maestro paraense Waldemar Henrique.
“Amazônia” do cantor paraense Nilson Chaves.
“Águas de Março”, que cita Matinta Perêra – Tom Jobim.
Leia:
“Visagens e Assombrações de Belém” do escritor paraense Walcyr Monteiro que traz um apanhado de lendas, entre elas lendas urbanas como “A moça do táxi”.
Fonte: Jornal Diário do Pará
Ilustrações: Boiúna, Boto, Capelobo e Matinta Perêra foram ilustradas pelo artista Fabio Ferezin do XGuilera
Fantasia misturada a realidade, com aspectos místicos e um pé no sobrenatural, as lendas nascem, crescem e se reproduzem mas, de fato, nunca morrem. Sobrevivem na memória das pessoas e povoam nossa imaginação com fatos irreais, sem comprovações científicas ou verdades absolutas. Como “quem conta um conto, aumenta um ponto”, são repassadas de gerações a gerações e se mantêm vivas no imaginário de um povo.
O conteúdo das lendas é fortemente simbólico e geralmente tem detalhes que podem ter realmente acontecido ou não, e que ao serem contados e recontados começam a ter um outro nível de realidade e imaginação. Na antiguidade, não conseguindo explicar os fenômenos da natureza de forma científica, os povos criavam mitos para dar um sentido maior aos acontecimentos inexplicáveis. Tal qual os mitos de Édipo e Electra que, extraídos de lendas gregas, acabam sendo explicados à luz da psicologia moderna. No Brasil, a miscigenação contribuiu fortemente para a origem de um grande número de lendas que, vindas de outros povos, acabaram fazendo parte da nossa própria história.
As lendas, em especial as amazônicas, são muito famosas e vagam pelos quatro cantos do país. As mais difundidas, de origens índigenas, costumam buscar explicações para os elementos da natureza; as européias, principalmente as portuguesas, tratam mais de assombrações e fantasmas; por fim, as africanas são ligadas a entidades, exus e etc.. Em maior ou menor grau, estão presentes em nosso cotidiano e acabam influenciando a formação cultural de cada brasileiro.
Aqui vamos dar a conhecer algumas das lendas que assombram até os mais céticos dos habitantes do Pará:
Boiúna (Cobra Grande)
A Boiúna, de boi (cobra) e una (negra), é uma cobra de tamanho imensurável. Tem olhos que “alumiam” feito tochas e ao passar pelos rios e igarapés derruba embarcações e devora crianças ou adultos que se banham nas margens. O povo paraense acredita que a Boiúna vive adormecida na cidade de Belém, entre a Cidade Velha e o bairro de Nazaré. E, quando ela acordar, irá afundar toda a cidade com seu movimento. Ao rastejar, a Boiúna vai deixando sulcos onde se formam novos igarapés. Vamos torcer para que ela nunca acorde - caso contrário, adeus bela Belém.
Boto
Segundo os ribeirinhos, um belo homem vestido de branco e com chapéu cobrindo a cabeça costuma aparecer nas festividades de São João para escolher a moça mais linda. Sedutor e charmoso, ele a convida para dançar e com seus encantos leva a escolhida para o fundo do rio. Sempre que avistam um homem de chapéu nas festas, os moradores costumam expulsá-lo, pois temem que ele possa ser o temido boto. Dizem que ele costuma usar o chapéu para esconder o rosto, já que sua tranformação em humano não é completa. E também para camuflar as narinas, que ficam no topo de sua cabeça. E aí, toparia uma dancinha com ele?
Capelobo
Presente em lendas da região Norte, principalmente no Pará, e também no Nordeste, lá pelas bandas do Maranhão, o capelobo é um bicho medonho. A lenda não explica bem como surgiu ou nasceu o Capelobo. Sabe-se apenas que é uma mistura de anta com tamanduá e homem e, ainda por cima, tem pés em formato de fundo de garrafa. O Capelobo é uma besta que, de acordo com os casos contados, suga a massa encefálica de suas vítimas. Digamos que ele é um parente não muito distante do Lobisomem, e suas vítimas preferenciais são animais recém-nascidos, entre eles gatos e cachorros. Ele também não descarta um delicioso cérebro humano. Eu que não gostaria de cruzar com um desses.
Matinta Perêra
Também conhecida como Matinta Perê, reza a lenda que ela é uma pessoa que carrega a maldição de se transformar em uma velha com unhas incrivelmente compridas, vestida de preto, que solta um assobio estridente e assustador. Costuma andar pela noite assobiando e quem a escuta deve prometer tabaco a ela, que no dia seguinte irá a casa da pessoa buscar o prometido. Dizem que ela também se apresenta como um pássaro negro, conhecido como “rasga-mortalha”, e quando está para morrer diz “Quem quer? Quem quer?”. A pessoa que responder a ela, achando que irá ganhar algum presente ou algo precioso, acaba ganhando a herança de se transformar em Matinta Perêra. Se escutar essa frase por aí, não vá responder, hein!
Outras lendas que vale a pena conhecer: Iara ou Mãe D’Água, Curupira, Mula-sem-cabeça e Vitória-Régia.
Veja:
Ele, o Boto (1987 ) de Walter Lima Jr., com Carlos Alberto Ricelli, Cássia Kiss Magro e Dira Paes.
Lendas Amazônicas (1998) de Moisés Magalhães e Ronaldo Passarinho.
Matinta (2009) de diretor Fernando Segtowick, com atores paraenses, entre eles, Dira Paes.
Ouça:
“Curupira”, “Foi bôto, Sinhá” e “Matinta Perêra” – do maestro paraense Waldemar Henrique.
“Amazônia” do cantor paraense Nilson Chaves.
“Águas de Março”, que cita Matinta Perêra – Tom Jobim.
Leia:
“Visagens e Assombrações de Belém” do escritor paraense Walcyr Monteiro que traz um apanhado de lendas, entre elas lendas urbanas como “A moça do táxi”.
Fonte: Jornal Diário do Pará
Ilustrações: Boiúna, Boto, Capelobo e Matinta Perêra foram ilustradas pelo artista Fabio Ferezin do XGuilera
Monte Roraima: a maior montanha plana do mundo
Na América do Sul, o monte Roraima, um dos mais altos planaltos da
região, tem duas características pouco comuns: além de se estender por
três países (Venezuela, Brasil e Guiana), é completamente plano. Alvo de
lendas e superstições, é hoje tema de documentários sobre a Natureza,
explorações científicas e escaladas para os mais aventureiros.
Está entre as formações geológicas mais antigas da Terra, quando os continentes ainda nem estavam separados, há cerca de dois bilhões de anos. O Monte Roraima foi ganhando este aspecto devido à acção do vento e da chuva, que foram “moldando” as suas rochas.
Situado num terreno montanhoso rodeado por outros imponentes montes, faz parte do chamado grupo Tepuis. Este grupo caracteriza-se pela sua forma natural: praticamente plana, como se os seus montes fossem mesas. Com uma extensão de 31Km2, está distribuído entre três países: no sul da Venezuela, no extremo norte do Brasil e no oeste do Guiana.
Desde sempre o Roraima despertou interesse e curiosidade. Há várias lendas antigas e mitos desde os primeiros povos que habitavam nas redondezas. Descrito pela primeira vez apenas em 1596, por Sir Walter Raleigh, foi também fonte de inspiração ao criador do famoso detective Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle, para a sua obra de 1912 O mundo perdido.
Em 2006, uma equipa de cientistas partiu numa exploração às recentemente descobertas grutas de Roraima. Um ano depois, retornariam com alguns apoios por parte da NASA, para uma maior investigação sobre micróbios encontrados nas paredes das grutas que poderiam trazer pistas sobre a vida noutros planetas.
As escaladas, subidas e descidas pela montanha datam já de 1884. Sir Everard Im Thurn, após várias tentativas de chegar ao topo, encontra finalmente um caminho pelas encostas. Apesar do difícil e íngreme acesso, foi o primeiro tepui a ser escalado. Hoje em dia, é esse o percurso mais usado pelos aventureiros que procuram uma experiência diferente.
Alcançar e percorrer os 90 Km do cume não é tarefa fácil. Pode levar dois dias até lá e sete dias para uma “exploração” total de toda a área. A caminhada começa do lado venezuelano. Na aldeia indígena de Paraitepuy, próxima da zona, é possível encontrar um guia para acompanhar a viagem, já que as nuvens e o tempo chuvoso podem levar alguém a perder-se no caminho. Para além da maravilhosa vista, da diversa fauna e flora que Roraima oferece, o ponto alto é a “Pedra Maverick”, que se assemelha a um modelo de automóvel dos anos 70. Os milhões de litros de água que escorrem pelo monte formam riachos e quedas de água de 979 m - entre elas, “Santo Angel”. Esta é a única maneira de chegar, sem recorrer ao uso de equipamentos de alpinismo. Do lado de Guiana e do Brasil, devido às falésias que rodeiam o monte, é impossível contorná-lo sem esta ajuda.
Para protegê-lo, foi transformado em 1989 em Parque Natural.
Obvius
Está entre as formações geológicas mais antigas da Terra, quando os continentes ainda nem estavam separados, há cerca de dois bilhões de anos. O Monte Roraima foi ganhando este aspecto devido à acção do vento e da chuva, que foram “moldando” as suas rochas.
Situado num terreno montanhoso rodeado por outros imponentes montes, faz parte do chamado grupo Tepuis. Este grupo caracteriza-se pela sua forma natural: praticamente plana, como se os seus montes fossem mesas. Com uma extensão de 31Km2, está distribuído entre três países: no sul da Venezuela, no extremo norte do Brasil e no oeste do Guiana.
Desde sempre o Roraima despertou interesse e curiosidade. Há várias lendas antigas e mitos desde os primeiros povos que habitavam nas redondezas. Descrito pela primeira vez apenas em 1596, por Sir Walter Raleigh, foi também fonte de inspiração ao criador do famoso detective Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle, para a sua obra de 1912 O mundo perdido.
Em 2006, uma equipa de cientistas partiu numa exploração às recentemente descobertas grutas de Roraima. Um ano depois, retornariam com alguns apoios por parte da NASA, para uma maior investigação sobre micróbios encontrados nas paredes das grutas que poderiam trazer pistas sobre a vida noutros planetas.
As escaladas, subidas e descidas pela montanha datam já de 1884. Sir Everard Im Thurn, após várias tentativas de chegar ao topo, encontra finalmente um caminho pelas encostas. Apesar do difícil e íngreme acesso, foi o primeiro tepui a ser escalado. Hoje em dia, é esse o percurso mais usado pelos aventureiros que procuram uma experiência diferente.
Alcançar e percorrer os 90 Km do cume não é tarefa fácil. Pode levar dois dias até lá e sete dias para uma “exploração” total de toda a área. A caminhada começa do lado venezuelano. Na aldeia indígena de Paraitepuy, próxima da zona, é possível encontrar um guia para acompanhar a viagem, já que as nuvens e o tempo chuvoso podem levar alguém a perder-se no caminho. Para além da maravilhosa vista, da diversa fauna e flora que Roraima oferece, o ponto alto é a “Pedra Maverick”, que se assemelha a um modelo de automóvel dos anos 70. Os milhões de litros de água que escorrem pelo monte formam riachos e quedas de água de 979 m - entre elas, “Santo Angel”. Esta é a única maneira de chegar, sem recorrer ao uso de equipamentos de alpinismo. Do lado de Guiana e do Brasil, devido às falésias que rodeiam o monte, é impossível contorná-lo sem esta ajuda.
Para protegê-lo, foi transformado em 1989 em Parque Natural.
Obvius
Por milhões de dólares, índios vendem direitos sobre terras da Amazônia
Por US$ 120 milhões, empresa irlandesa comprou direitos, incluindo biodiversidade, de 16 áreas com o dobro do tamanho de Portugal por 30 anos, proibindo índios de plantar ou extrair madeira; acordo teria sido assinado sem consentimento da maioria.
Por US$ 120 milhões, índios da etnia mundurucu venderam a uma empresa estrangeira direitos sobre uma área com 16 vezes o tamanho da cidade de São Paulo em plena floresta amazônica, no município de Jacareacanga (PA). O negócio garante à empresa “benefícios” sobre a biodiversidade, além de acesso irrestrito ao território indígena.
No contrato, a o qual o OESP teve acesso, os índios se comprometem a não plantar ou extrair madeira das terras nos 30 anos de duração do acordo. Qualquer intervenção no território depende de aval prévio da Celestial Green Ventures, empresa irlandesa que se apresenta como líder no mercado mundial de créditos de carbono.
Sem regras claras, esse mercado compensa emissões de gases de efeito estufa por grandes empresas poluidoras, sobretudo na Europa, além de negociar as cotações desses créditos. Na Amazônia, vem provocando assédio a comunidades indígenas e a proliferação de contratos nebulosos semelhantes ao fechado com os mundurucus. A Fundação Nacional do Índio (Funai) registra mais de 30 contratos nas mesmas bases.
Só a Celestial Green afirmou ao OESP ter fechado outros 16 projetos no Brasil, que somam 200 mil quilômetros quadrados. Isso é mais de duas vezes a área de Portugal ou quase o tamanho do Estado de São Paulo.
A terra dos mundurucus representa pouco mais de 10% do total contratado pela empresa, que também negociou os territórios Tenharim Marmelos, no Amazonas, e Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão e Rio Negro Ocaia, em Rondônia.
‘Pilantragem.’ “Os índios assinam contratos muitas vezes sem saber o que estão assinando. Ficam sem poder cortar uma árvore e acabam abrindo caminho para a biopirataria”, disse Márcio Meira, presidente da Funai, que começou a receber informações sobre esse tipo de negócio em 2011. “Vemos que uma boa ideia, de reconhecer o serviço ambiental que os índios prestam por preservar a floresta, pode virar uma pilantragem.”
“Temos de evitar que oportunidades para avançarmos na valorização da biodiversidade disfarcem ações de biopirataria”, reagiu a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
O contrato dos mundurucus diz que os pagamentos em dólares dão à empresa a “totalidade” dos direitos sobre os créditos de carbono e “todos os direitos de certificados ou benefícios que se venha a obter por meio da biodiversidade dessa área”.
Territórios indígenas estão entre as áreas mais preservadas de florestas tropicais. Somam mais de 1 milhão de quilômetros quadrados e a maioria deles está na Amazônia. Para empresas que trabalham com mecanismos de crédito de carbono, criado entre as medidas de combate ao aquecimento global, as florestas são traduzidas em bilhões de toneladas de gases estufa estocados e cifras agigantadas em dólares.
Benedito Milléo Junior, agrônomo que negocia créditos de carbono de comunidades indígenas, estima em US$ 1 mil o valor do hectare contratado. A conta é feita com base na estimativa de 200 toneladas de CO2 estocada por hectare, segundo preço médio no mercado internacional.
Milléo diz ter negociado 5,2 milhões de hectares, mais que o dobro do território dos mundurucu. Nesse total está contabilizado o território indígena Trombetas-Mapuera (RR), que fechou contrato com a empresa C-Trade, que também atua no mercado de crédito de carbono.
Segundo ele, a perspectiva é de crescimento desse mercado, sobretudo com a regulamentação do mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd).
Sem receber. Os mundurucu ainda não começaram a receber o dinheiro pela venda de direitos sobre seu território. Os pagamentos acordados, em 30 parcelas iguais de US$ 4 milhões, serão feitos até o último dia do ano, entre 2012 e 2041. As regras constam do contrato assinado pelo presidente da Associação Indígena Pusuru, Martinho Borum, e o diretor da Celestial Green, João Borges Andrade. As assinaturas foram reconhecidas no cartório de Jacareacanga.
“Não poderemos fazer uma roça nem derrubar um pé de árvore”, criticou o índio mundurucu Roberto Cruxi, vice-prefeito de Jacareacanga, que se opôs ao acordo. Ele disse o contrato foi assinado por algumas lideranças, sem consentimento da maioria dos índios. “A empresa convocou uma reunião na Câmara Municipal;eles disseram que era bom”, conta.
Em vídeo na internet, uma índia mundurucu ameaça o diretor da Celestial Green com uma borduna. “Pensa que índio é besta?”, gritou ela na reunião da Câmara, lembrando a tradição guerreira da etnia.
O principal executivo da Celestial Green, Ciaran Kelly, afirma todos os contratos da empresa com comunidades indígenas passam por um “rigoroso processo de consentimento livre, prévio e informado”, segundo normas internacionais.
Fonte OESP - O Estado de São Paulo. - Veja os vídeos abaixo.
Transposição do São Francisco, estão roubando o Brasil?
Custo da transposição do São Francisco tem aumento bilionário
Novo balanço do PAC 2 (segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento), divulgado na última quarta-feira, mostra que o custo da obra de transposição do rio São Francisco teve mais um aumento bilionário.
O projeto, que inicialmente era orçado em R$ 4,6 bilhões, agora custa 77,8% mais caro: R$ 8,18 bilhões, de acordo com o relatório do Ministério do Planejamento. Diante da estimativa anterior de R$ 6,85 bilhões, feita em 2011, o reajuste é de 19,4%.
PAC 2 tem 21% de seu orçamento executado em 2011, diz governo
O governo diz que as alterações são resultado do melhor detalhamento das obras pelos projetos executivos e de mudanças na metodologia de acompanhamento.
Em 2011, o PAC 2 teve R$ 204,4 bilhões executados, de um total de R$ 955 bilhões previstos até 2014. Isso significa que 21% do orçamento do programa foi executado no ano passado.
Segundo balanço de um ano da segunda etapa do programa, divulgado na quarta-feira (7) pelo Ministério do Planejamento, a maior fatia do dinheiro foi para financiamento habitacional: R$ 75,1 bilhões. Foram R$ 60,2 bilhões executados por empresas estatais, R$ 35,3 bilhões pelo setor privado, e R$ 20,3 bilhões são recursos do Orçamento Geral da União.
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